Boas.
Após 5 meses de ausência do mato a nossa saída de Outubro
2015 foi, naturalmente, para o local do nosso abrigo permanente. Além de todos
os projectos que cada um de nós planeou durante o verão e que iriam com certeza
ajudar ao desenvolvimento da sustentabilidade possível naquele local, também o
facto de durante 5 meses o abrigo ter ficado sem qualquer intervenção
levaram-nos imediatamente a decidir onde faríamos a nossa primeira saída depois
do verão. Contudo, ao chegarmos ao local deparamo-nos com três situações
prioritárias relativamente a todos os planos ou projectos que trazíamos em
mente realizar: o abrigo tinha cedido bastante em uma das faces laterais, o
topo da nossa lareira onde alguns paus da face da frente assentavam estalou
fazendo com que a parte da frente também estivesse em mau estado e o rio estava
seco sendo a única água disponível estagnada e sem qualquer corrente.
Sendo assim, tivemos de orientar os nossos esforços daquele
dia para endireitar o abrigo para que este ficasse em segurança e voltar a
reconstruir a lareira que tinha o topo rachado. Simultaneamente teríamos de
arranjar maneira de filtrar aquela água verde e estagnada antes de a podermos
purificar.
1. A
solução que encontrámos para solucionar o desnivelamento do abrigo foi colocar
uma boa trave de eucalipto do lado para onde o abrigo descaiu de forma a
exercer um pressão contrária e dessa forma mante-lo direito e sólido. Para tal
foi feito um entalhe no pilar da face lateral onde encaixou a ponta da trave de
eucalipto previamente trabalhada. A trave ficou enterrada num buraco, feito em
sentido contrário ao desnivelamento, para poder efectuar a pressão
desejada.
2. A
segunda tarefa, e esta bem mais gigantesca em termos de esforço físico, foi
colocar novamente um topo na lareira interior do abrigo. Tivemos de encontrar,
transportar e encaixar uma laje grande suficiente para, ao mesmo tempo tapar
por completo a parte superior da lareira, e também conseguir aguentar o peso de
alguns paus da face frontal do abrigo que nela iriam assentar. Depois de
reconstruída a lareira, esta foi isolada e moldada novamente de forma a se
conseguir o melhor efeito de extração de fumo possível (uma vez ser uma lareira
interior). Usamos uma massa feita com terra e água para conseguir esse
isolamento.
A maneira mais eficaz que encontràmos para transportar a pedra laje desde o rio foi construir um tipo de “andor”, com o qual os 4 conseguíssemos mais facilmente caminhar com aquele enorme peso.
3. Uma
das primeiras preocupações, ao depararmo-nos com a falta de corrente do rio,
foi arranjar de imediato um meio de filtrar aquela água verde antes de a
purificarmos e fazer com que esse processo pudesse acima de tudo ser prático e
fácil de usar, pois iria ser usado sempre que algum de nós quisesse encher o
cantil. Iriamos ter um dia ainda bem quente e iriamos fazer muito esforço
físico. Construímos um filtro com duas camadas de materiais: uma primeira
camada de carvão e uma segunda com uma base de pedras do rio onde depositámos também
alguma areia apanhada nas margens. Tivemos de retirar a areia pois a água ao
passar pelo filtro ganhava uma tonalidade castanha devido ao pó. O filtro
funcionou muito bem com o carvão e as pedras, acabando a água por perder quase
por completo a sua tonalidade verde inicial.
À noite fizemos a tradicional sopa na fogueira exterior e
alguns de nós puseram mãos à obra na construção de uma “moca” feita a partir
das raízes de algumas plantas de “mato ribeirinho” (não temos a certeza se esta
planta se chama mesmo assim) que um de nós tinha recolhido no trajecto até ao
local.
A noite foi tranquila e bem passada, contudo, tivemos de
apressar o nosso regresso pois de manhã fomos surpreendidos por uma manhã de
domingo bem chuvosa, contudo preciosa.
Apesar de não termos iniciado os projectos que planeámos
durante o verão, acabou por ser uma saída bastante produtiva e desafiante.
Solucionámos todos os imprevistos com que nos deparámos recorrendo às técnicas
que temos vindo a praticar durante estes anos e assim maximizámos o nosso
conforto no mato, que no nosso ponto de vista, é o grande desafio do Bushcraft.
Bem haja e boas aventuras.
FoicesAlbicastrenses
Impressionante, excelente trabalho!
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